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Lesões de Cartilagem

A cartilagem hialina é um tecido do corpo humano presente na extremidade dos ossos, dentro da articulação. Ela é formada por um tecido complexo, que contém as células denominadas condrócitos e a matriz extracelular, formada por diversas substâncias, principalmente água, proteoglicanos, glicosaminoglicanos, incluindo o ácido hialurônico, e colágeno tipo II. Tal matriz é produzida pelos condrócitos.

A cartilagem desempenha um papel vital na saúde e função das articulações, permitindo o deslizamento suave e sem dor entre os ossos. No entanto, lesões na cartilagem são comuns e podem ser debilitantes. Pelas características do tecido cartilaginoso, que não recebe sangue para sua nutrição, não recebe terminações nervosas e não recebe vasos linfáticos, o seu potencial de cicatrização espontânea é baixo.

Felizmente, avanços na medicina e na pesquisa têm permitido o desenvolvimento de várias opções de tratamento para lesões de cartilagem. Aqui, exploraremos as diferentes abordagens disponíveis, desde tratamentos não cirúrgicos até procedimentos cirúrgicos avançados, bem como as perspectivas futuras no tratamento de lesões localizadas de cartilagem, com enfoque na articulação do joelho.

Tipos de Lesões de Cartilagem

Primeiramente as lesões podem ser divididas entre difusas e localizadas. As lesões que acometem a articulação de forma difusa ocorrem, por exemplo, em doenças como a artrose ou a condromalácia patelar.

A artrose é um problema complexo da articulação, que envolve inicialmente o desgaste da cartilagem, mas acomete a articulação como um todo. Aqui no site há alguns artigos especificamente sobre esse problema (saiba mais sobre a artrose do joelho aqui).

A condromalácia da patela ou condropatia patelar também é um problema que ocorre por uma sobrecarga crônica da articulação entre a patela e o fêmur. Não nos atentaremos a este tópico aqui, já que existem diversos artigos aqui no site sobre ele (confira aqui mais informações sobre a condromalácia patelar).

Já as lesões que acometem a cartilagem articular de forma localizada ou focal, são aquelas que estão limitadas a uma determinada área da articulação. Elas podem ser de espessura parcial ou total, chegando até o osso presente atrás da cartilagem.

Ilustração de um joelho com a representação de uma lesão de cartilagem no fêmur

O que o Paciente Sente?

Os sintomas decorrentes das lesões focais da cartilagem do joelho podem ser diversos, mas normalmente há:

  • Dor articular;

  • Derrame articular (aumento de volume);

  • Sensação de travamento do joelho;

  • Rangido;

  • Percepção de fragmento solto dentro do joelho.

Como é Feito do Diagnóstico

O diagnóstico de uma lesão de cartilagem é feito primeiramente através do entendimento de como são os sintomas do paciente e em que situações eles ocorrem. É muito importante saber se houve algum tipo de trauma relacionado ao desencadeamento dos sintomas, como, por exemplo, uma torção do joelho.

O exame físico também é muito importante, indicando uma possível lesão e, principalmente, a sua localização dentro da articulação.

Após a coleta da história, a realização do exame físico e a suspeita de uma lesão de cartilagem, podem ser necessários alguns exames de imagem, que abordaremos no tópico a seguir.

Exames Necessários para o Diagnóstico

Alguns exames de imagem têm extrema importância para o diagnóstico de uma lesão de cartilagem e para a programação do tratamento. Os principais e mais frequentemente solicitados são as radiografias, a tomografia computadorizada e a ressonância magnética.

A radiografia traz informações importantes, como se existe um envolvimento significativo da parte óssea, se há desgaste de outras partes da articulação e do alinhamento do membro.

A tomografia computadorizada é um bom exame para sabermos se há fragmentos soltos dentro do líquido articular e também do envolvimento ósseo.

Contudo, a ressonância magnética é o exame que nos fornece mais informações sobre as características da lesão. Através dela, dados como o tamanho e a profundidade da lesão e a presença de outras lesões associadas podem ser obtidos. Assim, a ressonância se torna uma importante ferramenta para o planejamento do tratamento.

Tratamento

O tratamento das lesões focais de cartilagem deve ser considerado levando-se em consideração alguns aspectos. Como trata-se de um achado muito comum nos exames de imagem do joelho, quando o paciente tem uma lesão pequena, que não causa sintomas, muitas vezes apenas o acompanhamento clínico dessa lesão é indicado.

Contudo, lesões maiores podem ocasionar bastante limitação e provocar um desgaste rápido do compartimento em que está localizada e, por isso, merecem um tratamento direcionado.

Tratamento Não Cirúrgico

Fisioterapia: A fisioterapia desempenha um papel fundamental no tratamento de lesões de cartilagem do joelho. Os exercícios ajudam a fortalecer os músculos ao redor da articulação, reduzir a dor, melhorar a mobilidade e a sobrecarga mecânica.

Medicamentos: Anti-inflamatórios não hormonais, como o cetoprofeno, a nimesulida, entre outros, podem ser prescritos para reduzir a inflamação e a dor. Injeções de corticosteroides também podem proporcionar alívio temporário e infiltrações articulares com ácido hialurônico podem ser consideradas em casos específicos.

Suplementos: A suplementação com a associação entre condroitina e glicosamina ou com colágeno tipo II tem sido utilizada para melhorar a saúde da cartilagem, embora os resultados encontrados na literatura médica sejam variáveis.

Tratamento Cirúrgico

Há diversas técnicas cirúrgicas disponíveis para o tratamento das lesões localizadas da cartilagem. A indicação depende principalmente do tamanho e da localização da lesão na articulação. Os mais frequentemente realizados são os seguintes:

Desbridamento: Trata-se de um procedimento realizado por artroscopia, ou seja, por vídeo, que visa retirar fragmentos instáveis de cartilagem presentes na lesão.

Cauterização por radiofrequência: É um procedimento em que a radiofrequência é utilizada para que haja uma queimadura controlada de fragmentos instáveis e não viáveis da cartilagem lesionada.

Microfraturas: Este procedimento envolve a realização de pequenas perfurações na área da lesão. Estas perfurações liberam celulas tronco no leito da lesão de cartilagem, que servem para estimular o crescimento de tecido fibrocartilaginoso.

Microfratura.jpeg

Condrogênese Induzida por Matriz Autóloga (ou Autologous Matrix-Induced Chondrogenesis - AMIC): É um procedimento em que técnicas de estimulação, como a microfratura (descrita acima), são usadas para liberar células do osso subjacente. O supercoágulo resultante contém conhecidas como células-tronco, que podem ajudar a regenerar a cartilagem. O supercoágulo é coberto por uma membrana de colágeno para proteger as células e mantê-las no lugar correto.

Transplante Osteocondral Autólogo: Também conhecido como mosaicoplastia, trata-se de um procedimento em que cilindros contendo cartilagem e osso são retirados de locais saudáveis da articulação e são transferidos para o local lesionado.

Implante de Cartilagem Picada Autóloga: É um procedimento em que fragmentos de cartilagem saudáveis, que contém condrócitos viáveis, são coletados e picados. A seguir, são utilizados para preencher o defeito de cartilagem.

Transplante Autólogo de Condrócitos. Trata-se de um tratamento realizado em duas etapas. Na primeira, o tecido cartilaginoso é coletado e enviado para o laboratório, onde é submetido à expansão celular. Após a expansão, um novo procedimento cirúrgico é realizado para que o tecido seja implantado no local lesionado.

Perspectivas Futuras

A cartilagem é um tecido peculiar, cuja arquitetura é única no corpo humano. Suas funções de resistir à forças de compressão, de reduzir o atrito são muito difíceis de serem reproduzidas. Por isso a pesquisa contínua está explorando novas técnicas e abordagens para o tratamento de lesões de cartilagem do joelho.

Algumas das perspectivas futuras incluem:

Terapias Biológicas: Terapias baseadas em células-tronco provenientes de diversos tecidos do corpo, como o tecido adiposo, a medula óssea, têm sido desenvolvidas para melhorar o potencial de regeneração da cartilagem. Tais terapias são mais estudadas para o tratmamento de lesões difusas, como a artrose, mas têm seu papel no tratamento de defeitos cartilaginosos localizados.

Engenharia de Tecidos: A criação de tecidos cartilaginosos artificiais em laboratório está sendo estudada como uma alternativa promissora para os defeitos de cartilagem.

Terapias Genéticas: Avanços na medicina genômica podem permitir tratamentos personalizados, adaptados à genética de cada paciente, almejando modificações em células específicas relacionadas à regeneração da cartilagem.

Conclusão

O tratamento de lesões de cartilagem do joelho evoluiu significativamente ao longo dos anos, oferecendo uma variedade de opções, desde tratamentos não cirúrgicos até procedimentos cirúrgicos avançados. A escolha do tratamento dependerá da gravidade da lesão, da idade do paciente, da atividade física desejada e de outros fatores individuais. À medida que a pesquisa avança, novas perspectivas estão surgindo, prometendo abordagens mais eficazes e personalizadas para restaurar a saúde da cartilagem do joelho. No entanto, é importante consultar um profissional de saúde habilitado para determinar a melhor abordagem para cada caso específico.

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